Hoje, 21 de março, celebra-se o Dia Mundial da Poesia!
Aqui encontra os poemas que recebemos da nossa comunidade académica:
O tempo vive
O tempo vive, quando os homens, nele,
se esquecem de si mesmos,
ficando, embora, a contemplar o estreme
reduto de estar sendo.
O tempo vive a refrescar a sede
dos animais e do vento,
quando a estrutura estremece
a dura escuridão que, desde dentro,
irrompe. E fica com o uivo agreste
espantando o seu estrondo de silêncio.
de Fernando Echevarría [enviado por Maria do Céu Melro – colaboradora das Bibliotecas da Fundação Fernando Pessoa]
Aceita o universo
Aceita o universo
Como to deram os deuses.
Se os deuses te quisessem dar outro
Ter-to-iam dado.
Se há outras matérias e outros mundos
Haja.
de Alberto Caeiro [enviado por Carlos Ferreira – colaborador das Bibliotecas da Fundação Fernando Pessoa]
Aqui nesta praia
Aqui nesta praia onde
Não há nenhum vestígio de impureza,
Aqui onde há somente
Ondas tombando ininterruptamente,
Puro espaço e lúcida unidade,
Aqui o tempo apaixonadamente
Encontra a própria liberdade.
de Sophia de Mello Breyner [enviado por Ana Moreira – colaboradora das Bibliotecas da Fundação Fernando Pessoa]
Ser Poeta é ser mais alto
Ser Poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!
de Florbela Espanca [enviado por Ana Azevedo – colaboradora das Bibliotecas da Fundação Fernando Pessoa]
É urgente inventar alegria
É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.
Cai o silêncio nos ombros e a luz
impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente
permanecer.
de Eugénio de Andrade [enviado por Mónica Braga – colaboradora das Bibliotecas da Fundação Fernando Pessoa]
Tu
no teu castelo construído de ti, tão forte como as verdades puras, tão tocantemente belo, tão humano com o que há de seguro e bom em sê-lo, consegues com mil carinhos, mil afagos, mil botões de flor, mil raios de luz, iluminar a vida de quem acredita e se esquece, de quem ama e perde o norte, de quem sofre e sente a dor.
Amo a tua fé, a tua clareza, a tua forma teimosa de viver!
E amo os teus cansaços, o teu cuidado, as tuas muralhas viradas a Norte (todas as que conheço e as que apenas adivinho)… porque são elas que te fazem florir exuberantemente a Sul e te tornam tão deslumbrante a quem te sente.
de Verónica Abreu [enviado por Verónica Abreu – docente da Escola Superior de Saúde Fernando Pessoa]
Liberdade
Quando entrei na cidade fiquei sozinho no meio da multidão.
Em redor as portas estavam abertas. A multidão entrava naturalmente pelas portas abertas. Por cima das portas havia tabuletas onde estava colada aquela palavra que sobe – Liberdade!
Entrei por uma porta. Entrei como uma farpa!
Era uma ratoeira, Mãe! Era uma ratoeira! Se eu tivesse entrado como uma agulha podia ter saído como uma agulha, mas entrei como uma farpa, fiz sangue verdadeiro, já não me esquece. Aconteceu exactamente. Dei um mau jeito nos rins por causa da ratoeira! Ainda me lembro da palavra – Liberdade!
vídeo [lê Ricardo Regalado]
de José Almada Negreiros [enviado por Ana Moutinho – colaboradora do Gabinete de Relações Internacionais da Fundação Fernando Pessoa]
Quando vier a Primavera
Quando vier a Primavera,
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada.
A realidade não precisa de mim.
Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma
Se soubesse que amanhã morria
E a Primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.
Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
O que for, quando for, é que será o que é.
vídeo [lê Pedro Lamares]
de Alberto Caeiro [enviado por Carlos Ferreira – colaborador das Bibliotecas da Fundação Fernando Pessoa]
Piano
Era uma vez um pianista,
Que se lembrou de recitar.
Quando queremos tocar notas
Devemos de no piano experimentar.
Podem até parecer soltas,
Mas ficam para durar.
A música é uma arte,
Não nos devemos interrogar,
Por muito que seja relativa,
É mais leve que o olhar.
Qualquer pessoa pode ser artista,
Às vezes sem saber
Basta começar a desbravar,
As entranhas do seu ser.
Convém, no entanto,
Nunca temer
Qualquer crítica exterior,
Porque quando se acredita,
O mundo fica bem maior.
E o artista regressa,
Ao seu piano de estimação
Sem nunca perder a esperança,
E o fogo no coração.
Bonança que o gratifica e faz feliz,
Até quando o mundo não entende.
Qual o motivo por que Deus quis,
Em si, inspirar semelhante dom,
Que a todos transcende.
Só as saudades da sua música,
Servem para lhe relembrar
Os tempos de mocidade,
E aquele ingénuo olhar.
Onde imperava a felicidade
Até no rudimentar,
Por muito pequena a novidade,
Nunca deixava de o cativar.
Até o mundo o ter inspirado,
A encontrar um dirigível
Onde pudesse levar
Os seus sonhos e ambições,
Até se refugiar
Das suas maiores obrigações.
de Pedro Miguel Neves Maia [enviado por Pedro Miguel Neves Maia – licenciado em Ciências Comunicação da Universidade Fernando Pessoa]
Mãe
Mãe:
Que desgraça na vida aconteceu,
Que ficaste insensível e gelada?
Que todo o teu perfil se endureceu
Numa linha severa e desenhada?
Como as estátuas, que são gente nossa
Cansada de palavras e ternura,
Assim tu me pareces no teu leito.
Presença cinzelada em pedra dura,
Que não tem coração dentro do peito.
Chamo aos gritos por ti — não me respondes.
Beijo-te as mãos e o rosto — sinto frio.
Ou és outra, ou me enganas, ou te escondes
Por detrás do terror deste vazio.
Mãe:
Abre os olhos ao menos, diz que sim!
Diz que me vês ainda, que me queres.
Que és a eterna mulher entre as mulheres.
Que nem a morte te afastou de mim!
de Miguel Torga [enviado por Germano Couto – docente da Escola Superior de Saúde Fernando Pessoa]
Esparsa sua ao desconcerto do mundo
Os bons vi sempre passar
No mundo graves tormentos;
e, para mais m’ espantar,
os maus vi sempre nadar
em mar de contentamentos.
Cuidando alcançar assim
o bem tão mal ordenado,
fui mau; mas fui castigado.
Assim que só para mim
anda o mundo concertado.
vídeo [Mundo dos Poemas]
de Luís de Camões [enviado por Rute Meneses – docente da Universidade Fernando Pessoa]
A criança que fui chora na estrada
I
A criança que fui chora na estrada.
Deixei-a ali quando vim ser quem sou;
Mas hoje, vendo que o que sou é nada,
Quero ir buscar quem fui onde ficou.
Ah, como hei-de encontrá-lo? Quem errou
A vinda tem a regressão errada.
Já não sei de onde vim nem onde estou.
De o não saber, minha alma está parada.
Se ao menos atingir neste lugar
Um alto monte, de onde possa enfim
O que esqueci, olhando-o, relembrar,
Na ausência, ao menos, saberei de mim,
E, ao ver-me tal qual fui ao longe, achar
Em mim um pouco de quando era assim.
II
Dia a dia mudamos para quem
Amanhã não veremos. Hora a hora
Nosso diverso e sucessivo alguém
Desce uma vasta escadaria agora.
E uma multidão que desce, sem
Que um saiba de outros. Vejo-os meus e fora.
Ah, que horrorosa semelhança têm!
São um múltiplo mesmo que se ignora.
Olho-os. Nenhum sou eu, a todos sendo.
E a multidão engrossa, alheia a ver-me, Sem que eu perceba de onde vai crescendo.
Sinto-os a todos dentro em mim mover-me,
E, inúmero, prolixo, vou descendo
Até passar por todos e perder-me.
III
Meu Deus! Meu Deus! Quem sou, que desconheço
O que sinto que sou? Quem quero ser
Mora, distante, onde meu ser esqueço,
Parte, remoto, para me não ter.
de Fernando Pessoa [enviado por Sílvia Marisa Neves da Costa Pinto – aluna da licenciatura em Psicologia da Universidade Fernando Pessoa]
Até amanhã
Sei agora como nasceu a alegria,
Como nasce o vento entre barcos de papel,
Como nasce a água ou o amor
Quando a juventude não é uma lágrima.
de Eugénio de Andrade (excerto do poema) [enviado por Pedro Melo Pestana – docente da Escola Superior de Saúde Fernando Pessoa]
Cântico Negro
“Vem por aqui” — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: “vem por aqui!”
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali…
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos…
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: “vem por aqui!”?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí…
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.
Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?…
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos…
Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios…
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios…
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: “vem por aqui”!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou…
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!
vídeo [lê Paulo Gracindo] e vídeo [mistura por David Bt FT sobre a voz de João Villaret]
de José Régio [enviado por Rui Leandro Maia – docente da Universidade Fernando Pessoa]
Soror Mariana – Beja
Cortaram os trigos. Agora
A minha solidão vê-se melhor.
de Sophia Mello Breyner [enviado por João Ferreira – docente da Universidade Fernando Pessoa]
Vida
Choveu! E logo da terra humosa
Irrompe o campo das liliáceas.
Foi bem fecunda, a estação pluviosa!
Que vigor no campo das liliáceas!
Calquem. Recalquem, não o afogam.
Deixem. Não calquem. Que tudo invadam.
Não as extinguem. Porque as degradam?
Para que as calcam? Não as afogam.
Olhem o fogo que anda na serra.
É a queimada… Que lumaréu!
Podem calcá-lo, deitar-lhe terra,
Que não apagam o lumaréu.
Deixem! Não calquem! Deixem arder.
Se aqui o pisam, rebenta além.
– E se arde tudo? – Isso que tem?
Deitam-lhe fogo, é para arder…
de Camilo Pessanha [enviado por Vitor Teixeira – docente da Universidade Fernando Pessoa]
Deriva VIII
Vi as águas os cabos vi as ilhas
E o longo baloiçar dos coqueirais
Vi lagunas azuis como safiras
Rápidas aves furtivos animais
Vi prodígios espantos maravilhas
Vi homens nus bailando nos areais
E ouvi o fundo som das suas falas
Que nenhum de nós entendeu mais
Vi ferros e vi setas e vi lanças
Oiro também à flôr das ondas finas
E o diverso fulgor de outros metais
Vi pérolas e conchas e corais
Desertos fontes trémulas campinas
Vi o rosto de Eurydice das neblinas
Vi o frescor das coisas naturais
Só do Preste João não vi sinais
As ordens que levava não cumpri
E assim contando tudo quanto vi
Não sei se tudo errei ou descobri.
vídeo [lê Diogo Infante]
de Sophia Mello Breyner [enviado por Pedro Silva – docente da Universidade Fernando Pessoa]
Elegia em forma de Epístola
A circunstância de sermos homem e mulher
presos por uma aliança tácita
e secreta
do sangue
é que nos prende à vida, meu amor, e nos salva.
Nascemos sem passaporte,
entre fronteiras guardadas
por sentinelas de sal e de silêncio.
O rio da história corre, estrangulado, entre as pedras,
e o cascalho, e os detritos humanos,
e a alegria suicida das coisas limpas e puras
abandonadas e soltas à vertigem da morte.
Construímos
para nossa defesa
um muro de ironia e de sarcasmo
– imponderável cortina
de humana ternura envergonhada
ou, como tu dizes, perseguida.
O silêncio é a corda
que nos prende aos mastros,
a antena vegetal por onde
a vida se insinua,
universal e atenta.
Marinheiros de uma pátria
ancorada no tempo,
bebemos o sal dos minutos que passam
e adormecemos, hirtos, de costas para o mar.
de Albano Martins [enviado por Isabel Martins – psicóloga da Fundação Fernando Pessoa]
A arquitectura da luz
Na passagem do tempo
toda uma paisagem
toma diferentes cambiantes.
a arquitectura da luz
projecta os rostos
perante o olhar
e a sonolência dita
a memória sem fim.
de Fernando Bouça [enviado por Manuel Cerveira Pinto – docente da Universidade Fernando Pessoa]
The bluebird
there’s a bluebird in my heart that
wants to get out
but I’m too tough for him,
I say, stay in there, I’m not going
to let anybody see
you.
there’s a bluebird in my heart that
wants to get out
but I pour whiskey on him and inhale
cigarette smoke
and the whores and the bartenders
and the grocery clerks
never know that
he’s
in there.
there’s a bluebird in my heart that
wants to get out
but I’m too tough for him,
I say,
stay down, do you want to mess
me up?
you want to screw up the
works?
you want to blow my book sales in
Europe?
there’s a bluebird in my heart that
wants to get out
but I’m too clever, I only let him out
at night sometimes
when everybody’s asleep.
I say, I know that you’re there,
so don’t be
sad.
then I put him back,
but he’s singing a little
in there, I haven’t quite let him
die
and we sleep together like
that
with our
secret pact
and it’s nice enough to
make a man
weep, but I don’t
weep, do
you?
vídeo [SpokenVerse]
de Charles Bukowski [enviado por Mariana Isabel Gomes da Rocha Couto – aluna do mestrado integrado em Ciências Farmacêuticas da Universidade Fernando Pessoa]
Tabacaria
(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)
de Álvaro de Campos (excerto do poema) [enviado por Jorge Pedro Sousa – docente da Universidade Fernando Pessoa]
Soneto de fidelidade
Enviado por Rafani Januário
De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
vídeo [lê Vinicius de Moraes]
de Vinicius de Moraes (excerto do poema) [enviado por Rafani Marostica Januario – aluna da licenciatura em Psicologia da Universidade Fernando Pessoa]
Do alto deste penedo
Do alto deste penedo
Enfrento o mar
Engulo o meu medo,
Vou mergulhar!
Da superfície irada
Ao pacífico fundo
Quero, vagueando,
Explorar esse mundo,
Onde tudo é azul
E quem lá mora flutua.
Descobrir dentro
Do espelho
A verdadeira face
Da lua.
Desvendar os segredos
Que encerra
A parte oculta da Terra,
No ir e vir
Da maré,
Deixar-me à deriva
Com Fé.
De nunca mais
Vir dar à costa,
Na espuma das ondas
Ler a resposta
Ao maior mistério,
E no negro leito,
Num sonho perfeito
Fechar os olhos,
Tornar-me etéreo!
de Miguel Rocha dos Santos [enviado por Maria Manuela Santos – doutorada em Ciências Sociais pela Universidade Fernando Pessoa]
Reinvenção
A vida só é possível
reinventada.
Anda o sol pelas campinas
e passeia a mão dourada
pelas águas, pelas folhas…
Ah! tudo bolhas
que vem de fundas piscinas
de ilusionismo… – mais nada.
Mas a vida, a vida, a vida,
a vida só é possível
reinventada.
Vem a lua, vem, retira
as algemas dos meus braços.
Projeto-me por espaços
cheios da tua Figura.
de Cecília Meireles [enviado por Maria Gil Ribeiro – docente da Universidade Fernando Pessoa]
Primeira Elegia (Elegias de Duíno)
Quem, se eu gritasse, me ouviria de entre as ordens
dos anjos? e mesmo que um deles, de repente,
me cingisse ao coração: eu desfaleceria da sua
existência mais forte. Pois o belo não é mais
do que o começo do terrível, que ainda mal suportamos,
e deslumbra-nos assim porque, imperturbado,
desdenha aniquilar-nos. Todo o anjo é terrível.
E eu me retraio então e engulo o chamariz
do escuro soluçar.
de Rainer Maria Rilke (excerto do poema) [enviado por Luísa Vasconcelos – docente da Universidade Fernando Pessoa]